Carta de Repúdio à Exclusão

Caros colegas dos Institutos de Formação de Terapeutas Familiares de São Paulo, associados da ABRATEF, instituições de atendimento e cursos de aprimoramento da Regional São Paulo – APTF e a todos que se importam com a qualidade do viver em sociedade.

O Instituto Sistemas Humanos é uma ONG que presta serviços à comunidade oferecendo atendimento em terapia familiar e de casais, atendimento a famílias em processos de adoção, a famílias com um membro com câncer, oferece cursos de aprimoramento a terapeutas com abordagem relacional construcionista social, tem uma equipe com ampla experiência de colaboração e pertencimento a instituições públicas educação, saúde mental ou serviços sócio-assistenciais.

Vimos por meio dessa carta aberta nos pronunciar sobre dois movimentos importantes e a nosso ver alarmantes que estão ocorrendo em nosso país.

O projeto “Diretrizes para um modelo de atenção integral em saúde mental no Brasil“, apresentado pelo Governo Bolsonaro em dezembro de 2020, em uma tacada, desativa cerca de 100 portarias em saúde mental. Isso significa que desarticula o atendimento psicossocial em rede e seu esforço de horizontalidade, cancelando o acompanhamento humanizado e inviabilizando a proximidade com a família e a comunidade. É o desenho de um serviço verticalizado que aponta para a hierarquização das relações de cuidado e para a volta dos velhos manicômios, baseados em uma leitura psicopatológica do que é demasiado humano: a dor, o sofrimento, a solidão e o isolamento social. Um modelo que propõe a centralidade e o distanciamento desdenhando de uma noção de saúde ampla, que engloba o sujeito e seu contexto social e relacional.

Além disso, o Governo Bolsonaro assinou um decreto em outubro do ano passado que incentiva a segregação de estudantes com deficiência, e esta medida é um retrocesso em relação aos incentivos à inclusão de todos sem distinção no processo educacional.

Pelo que entendemos, é uma das missões da escola preparar seus alunos para viver em uma sociedade plural. Daí a importância da convivência de crianças portadoras de deficiência com as consideradas eficientes, o que possibilita aprender com as diferenças e se preparar melhor para a vida no processo de descobrir como lidar com as diferenças.

Educar é apresentar a vida e não dizer como viver (Rosely Sayão).

Essas crianças com desenvolvimento diferente são como cada um de nós, repletos de carências, dificuldades, dores e dissabores. Possuem como nós um corpo limitante, com necessidades que precisam ser satisfeitas e anseios insatisfeitos. Gostamos dessa expressão por que ela nos lembra que cada ser humano tem o seu próprio tempo, o seu jeito de se desenvolver e pensamos que todos os jeitos são igualmente parte do desenvolvimento humano.

A inclusão está na base da ideia de aceitarmos as diferenças entre nós. Como poderemos ser uma sociedade que aceita, respeita e legitima o outro como um legítimo outro nas suas idiossincrasias e peculiaridades se não pudermos incluir a todos?

Um dos aspectos importantes da inclusão é o de proporcionar à criança com necessidades especiais conviver socialmente com outras crianças e desenvolver a autonomia, que é fundamental para a construção da autoestima. E para os não portadores de necessidades especiais que possam também aprender os recursos dos diferentes e desenvolver uma visão sobre seus próprios limites e diferenças para fazerem-se também incluir para além do bullying e dos movimentos de exclusão.

A ética relacional horizontal que acreditamos, nos permite empatizar com as diferenças, reconhecê-las e legitimá-las. Diferenciar não é segregar e desvalorizar. As políticas públicas devem refletir o respeito às necessidades especiais que grupos humanos apresentam pois é uma conquista da civilização humana e um posicionamento contra a barbárie.

Equipe de formadores do Instituto Sistemas Humanos.

Denise Mendes Gomes

Saiba um pouco sobre mim

Sou psicóloga, psicoterapeuta individual, de casais e de famílias. Nesse trabalho, valorizo a arte do encontro através de uma escuta atenta que busca compreender o pulsar de cada coração, permitindo que cada ser possa se expressar e dar-se conta das raízes e do contexto que envolvem seu sofrimento, o que lhe permite superar barreiras e ampliar seu mundo. Fiz a minha graduação na USP (1987), onde me titulei mestre (1998) e, posteriormente, doutora (2004) em psicologia social. No mestrado estudei como atuam os mitos familiares e publiquei o livro Mitos Familiares: memória e ocultação (1999). No doutorado, estudei sobre como os mitos religiosos são apropriados por cada família de um jeito único, de acordo com seus mitos familiares. Parte do resultado desse estudo foi publicada no livro Religiosidade e Psicoterapia (2008).