Carta póstuma a um amigo

Querido Mony!

Estavam terminando os anos’80 e havia uma efervescência na jovem terapia familiar.

Estávamos em movimento, buscando novos pensamentos, novas inspirações. Eu e Janice fomos a Buenos Aires beber em novas fontes no Interfas de Dora Schnitman e Saul Fuks.

Conhecemos você! Um dos encontros humanos e profissionais mais férteis que já experimentei e que mais uma vez quero agradecer! Já o fiz tantas vezes, não é? Em nossas longas conversas em várias línguas! Você falando em francês, que eu adorava ouvir, entendia bastante, mas não conseguia me expressar, eu falando um pouco em inglês, um pouco em português e muito na linguagem da intuição de nossas almas. Podíamos conversar horas, nos entendendo nessa Babilônia!

Sempre me encantou a liberdade que você tinha para colocar o terapeuta na sua completa humanidade no seu fazer terapêutico.

Com você em suas maravilhosas supervisões, assim você as denominava, pois não podemos esquecer sua formação como médico, psiquiatra, árabe-judeu, onde a hierarquia e a complexidade são valores importantíssimos, pude viver experiências clinicas inesquecíveis, reflexões libertadoras sobre minha história de vida e uma validação como terapeuta absolutamente única.
Você me convidava, com uma criatividade incrível, a me entregar as viagens
profundas na interseção e ressonâncias daquelas situações, e eu, fui me libertando de impedimentos e vergonhas que me empobreciam. Fui aprendendo sua teoria, intuitivamente a reconhecendo em minhas posturas, sendo incentivada por seu olhar!

Durante vários cursos e supervisões com você realizei uma revolução dentro de mim! Pude juntar tudo que me constituía, todas as formações e experiências anteriores, que pareciam

estar em oposição. Esse mosaico complexo que constitui a singularidade de cada terapeuta! Essa confirmação, vinda de você, abriu as portas de tudo que pude construir posteriormente, como terapeuta e como formadora de novos terapeutas. Uma vez mais agradeço as portas que você abriu dentro de mim.

Mas não foi só isso, meu amigo! Preciso agradecer também sua presença em nosso Instituto Sistemas Humanos!

Você nos trouxe o seu saber, sua dedicação e generosidade!

Nos presenteou tanto! Nos incentivava e, admirava como fazíamos acontecer nossa formação baseada na pessoa do terapeuta. Essa linha mestra que marca a identidade do Sistemas Humanos foi inspirada por você no comecinho dos anos 90 e se concretizou no ano 2000 com o nascimento do instituto e de nossa equipe.

Vinte anos se passaram, nosso aniversário foi chegando e quisemos convida-lo novamente para participar de nossas celebrações. Temos tantas lembranças lindas das suas visitas, workshops, supervisões, festas em minha casa! Entrei em contato, você gostou do convite, me ofereceu seu último livro “ Vivre en couple” para que o traduzisse e o instituto o lançasse como parte das comemorações….

Você já havia confirmado sua presença no 14º Congresso da Abratef!
Tudo articulado.

Tudo combinado! Nós felizes com sua presença para os nossos 20 anos, você contente de voltar ao Brasil!

Pandemia! Tudo suspenso!

Você não respondeu mais aos e-mails da Abratef, eu toquei o projeto com a tradutora, queria entrar em contato com você com o livro já pronto! Tentei me comunicar dia 18 e 19 de novembro.

Silêncio! Você não retornou!

Você às vezes demorava! Muitos afazeres, não gostava dos e-mails…
Esperei! Sábado chega a notícia de seu instituto em Bruxelas! Você partiu!
Deixou seu último presente, “Viver a dois: defender a estratégia do pior”, já traduzido!

Você pode ter certeza vamos lança-lo aqui com muito amor!

Você partiu! Ficou dentro de nós sua força, inteligência, inspiração e …muitas saudades!

Sandra Fedullo Colombo

Saiba um pouco sobre mim

Formei-me pela PUC-SP, em Serviço Social, em 1968. Na década de 70 vivi experiências que construíram minha identidade profissional: Psiquiatria do Hospital dos Servidores Públicos do Estado de São Paulo, Comunidade Terapêutica Enfance